domingo, 12 de outubro de 2003

Receitas da avó

Neste caso da minha avó. E esta primeira receita é um prato típico madeirense: milho cozido. Que pode e deve - digo eu - ser acompanhado com peixe frito e cebolada. O peixe costuma ser atum, mas não é estritamente necessário. Com "chicharros", é igualmente delicioso. Este prato, que o tempo já perdeu a origem, e caso não tenha perdido, não sou eu quem vai procurar, deve ter começado por ser um prato das classes mais baixas, por ser muito barato e ser feito em grandes quantidades. Depois tornou-se muito popular, como acompanhamento das famosas espetadas, em forma de cubos de milho frito.
Não é que fazer milho, seja complicado, mas tenho a impressão, que hoje em dia, não existe muita gente a fazer milho cozido. O problema é que é demorado e exige muita atenção por parte de quem cozinha, sob o risco de ficar uma bela porcaria. É muito mais fácil de tempos a tempos ir a restaurantes e comer milho. Só que nos restaurantes só servem milho frito e não cozido. E eu por mais que goste de milho frito, sou completamente maluco por milho cozido acabado de tirar da panela, ainda a fumegar. E escrevo isto, para que quem leia, se sinta tentado a fazer e quando isso acontecer, convidar-me para a grande prova, 'cause I'm the big fucken master of taste, or something like that!
E de seguida a receita.
Encher uma panela com seis litros de água. Levar ao lume até a água ficar morna. Nesse instante, deitar um quilo de farinha de milho para dentro da panela. Importante, a água não pode estar muito quente, sob o risco de se formar "godilhões". Quando eu digo morna é morna mesmo, do tipo para lavar bebés. Depois de o milho deitado na água, com uma colher de pau, mexer até que o milho fique com uma boa consistência. Isto pode durar de 15 a 30 minutos sempre a dar ao braço. Recomendo uns dias antes irem para um ginásio para exercitar os bíceps. Caso esteja a demorar muito a atingir a consistência perfeita, pode-se sempre deitar um pouco mais de milho para ajudar. Ao mexer, pode-se ir juntando o sal, a salsa, o alho, a couve cortada em pedacitos pequeninos, um pouco de gordura - minha avó usa manteiga - e dois cubos de maggi ( de carne). As quantidades não são definidas e são um pouco a olho - claro, não prometo nem queiram que o milho saia bem à primeira, a gastronomia é uma arte que vive muito da experimentação e repetição - mas como conselho, digo, não abusem do sal. Atingindo a consistência necessária - ou seja, quando torna-se muito díficil mexer com a colher de pau - deixar cozer em lume brando, cerca de 45 a 60 minutos. De quando em quando, convém, dar uma mexidela no milho, para não se colar no fundo do tacho, apesar de ser praticamente inevitável. Posto isto, depois de cozido, está pronto a ser servido. Deitar em pratos fundos e deixar arrefecer durante uns 10 minutos. Com o peixe frito e a cebolada a acompanhar, está pronto a ser devorado. Fartem-se.

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