quinta-feira, 29 de janeiro de 2004

MEDO DE MUDAR?

Comentando algumas obras em prol do "Pugresse" (escreve-se assim porque o outro, o "Progresso" cultural ainda está a anos luz da média europeia) da nossa tão abastada Ilha da Madeira (sim porque nem as empresas de construção civil nem a empresa de AL "Ramos" Katron podem parar), dei por mim num debate com a mãe da minha mãe (considerada por muitos duas vezes mãe) sobre o estado da política regional. Num lampejo de lucidez que me enregelou a espinha, diz-me ela com toda a convicção:
"Não vale a pena mudar de governo porque pelo menos estes já estão cheios, ao passo que se vierem outros vão ter que começar a roubar do zero outra vez!"

Ainda atordoado pela aparente sobriedade de tais afirmações acometi-me num silêncio introspectivo enquanto desviava o meu bólide pelas estradas com troços em obras (ou serão obras com troços em estrada?).

Mais tarde nesse dia percebi o erro de raciocínio da mãe da minha mãe.
Acomodarmo-nos àquela situação é como não lavar a loiça porque vai ser suja outra vez ao jantar, ou não trocar de roupa interior porque a nova sujar-se-á novamente. Ela (a mãe da minha mãe) não contemplou um pequeno pormenor, talvez por senilidade, talvez por comodismo, talvez por desinteresse.
Esse pormenor é o sal da vida, é o prazer de jantar num prato limpo, é o prazer de vestir uma roupa fresca, é o sentimento de esperança de que alguém saiba fazer mais e melhor.
Finalmente, concluí que a vida sem referências é muito perigosa e que pode nos levar a situações de monopólio de emoções, de sensações, de poder e ao MEDO, ao profundo MEDO DE MUDAR...

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